Amamos tanto os nossos filhos que dói. É difícil de descrever e, até nos tornarmos pais, de compreender a dimensão desse amor também. Nós os cobrimos de beijos, apertos, carinhos. E antes mesmo que eles entendam o significado dessas palavras, declaramos “eu te amo” a toda hora, em qualquer lugar. Mas será o suficiente para a criança se sentir amada? “Se você disser isso para um adulto, sem demonstrar o sentimento com atitudes, não vai fazer sentido para ele. Que dirá a uma criança?”, diz a educadora Edileide Castro, autora deAfetividade e Limites (Ed. Wak). Com o passar dos anos, pode ser até que seu filho fique com vergonha dessa demonstração exagerada de afeto vez ou outra ou, simplesmente, se irrite – e vai limpar um beijo ou, pior ainda, vai pedir para descer do carro um quarteirão antes da escola. Mas até esse dia chegar, muitos beijos e abraços virão. Afinal, que você ama o seu filho, não há dúvidas. E existem diversas formas de fazer com que ele entenda isso. A seguir, nós mostramos algumas.
1. Diga nãoApesar de ter dito várias vezes, antes de se tornar mãe, que jamais um filho seu seria um menino mimado, quando chega a hora de impor limites... dá uma peninha, não? Ou, às vezes, culpa mesmo. A dona de casa Luciana Cerutti, mãe das gêmeas Gabriela e Beatriz, 2 anos, já sabe que educar, às vezes, é um dilema. “Minhas filhas entraram cedo na escola. Então, o pouco tempo que passo com elas não quero que seja de brigas e gritos”, explica. Mas entende que amar também significa dizer não. “Se for preciso, repito 50 vezes a mesma coisa.” A justificativa é simples. “Apesar da cara feia, os limites passam para a criança a sensação de que alguém se importa com elas”, afirma a educadora Edileide.
2. Demonstre carinho pelo próximo tambémQue os nossos filhos aprendem pelo exemplo, já sabemos. Assim, tomamos o maior cuidado para respeitar os sinais de trânsito, comer de boca fechada e não falar palavrão na frente deles. Mas como ensinar o amor com exemplos no dia a dia? Beijar e abraçar as crianças, algo que fazemos quase que instintivamente, é a primeira coisa que vem à cabeça. Mostrar que existe carinho entre os pais e os outros adultos ao redor, desde que isso aconteça naturalmente, também é uma forma de fazer com que seu filho se sinta amado. “O relacionamento familiar é o primeiro modelo que a criança tem”, diz a psicóloga Isabel Gomes, professora titular do Instituto de Psicologia da USP.
3. Planeje algo especial para eleOK, nem sempre temos tempo de cuidar de todos os detalhes de uma festa de aniversário, por exemplo. Comida, bebida, reservar o salão de festas, alugar mesas e cadeiras, escolher um tema... Contratar os serviços ou comprar tudo pronto (onde encontrar tempo para enrolar centenas de brigadeiros?) é, sem dúvida, a opção mais prática. Mas, ainda que você não tenha muitas habilidades culinárias ou artesanais, que tal pedir ajuda da criança para aprontar ao menos um item dessa lista interminável? Pode ser desenhar o convite, embrulhar a caixa para colocar os presentes ou até mesmo fazer a lembrancinha. Além de se sentir importante, ele nunca mais vai esquecer aquele clima gostoso dos dias que antecedem a comemoração. E o melhor: você mostrará o quanto gosta do seu filho.
4. Dê sentido às palavrasQual foi a primeira frase que você disse ao seu filho? Na página da CRESCER no Facebook, 90% dos pais responderam “Eu te amo”. Você também responderia o mesmo, aposto. “Mas se não tomarmos cuidado, acabamos colocando o ‘eu te amo’ na prateleira do ‘boa noite’, ‘tchau’ e companhia”, bem lembrou a atriz Denise Fraga, recentemente, na coluna que ela escreve na CRESCER. Para a psicóloga Dina Azarak, autora de A Linguagem da Empatia – Métodos Simples e Eficazes para Lidar com o seu Filho (Summus Editorial), podemos – e devemos! – declarar o nosso amor pelos filhos de duas formas: explicitamente, como fala Denise, ou descritivamente. Assim, “o seu abraço é tão gostoso”, “fiz aquele bolo que você gosta” ou “seja bem-vindo, filho” (não por acaso, a segunda resposta mais citada pelos fãs) também passam o mesmo recado.
5. Deixe um bilhete surpresaNa lancheira, na mala que ele vai levar para o acantonamento da escola ou na mochila em um dia de prova, um recadinho de poucas palavras vai arrancar um sorriso lindo do seu filho. “Gestos assim fazem com que a criança entenda que os pais se lembram dela mesmo quando estão longe”, afirma a psicóloga Dina. Ela recomenda, ainda, que sejam esporádicos e personalizados. “É preciso conhecer bem os gostos do seu filho para não errar.” Se ele não sabe ler ainda, que tal um desenho? Pena que você não vai estar lá para tirar uma foto da cara dele quando vir sua mensagem!
6. Assistam a um filme antigoDas animações da Pixar às comédias românticas, os chamados filmes inspiracionais, aqueles que fazem a gente sair do cinema feliz, estão na moda e são sempre um sucesso de bilheteria. A Felicidade não se Compra, do diretor Frank Capra, estreou bem antes, em 1946. Ele conta a história de George Bailey (vivido por James Stewart), um pai de família sonhador que deixou a vida levar seus caminhos para outros lados. A uma certa altura, quando ele achava que não tinha alcançado o que merecia, até mesmo o suicídio torna-se uma opção. Uma visita inesperada, porém, o faz rever alguns capítulos importantes de sua vida. Os pequenos talvez não compreendam tudo. Mas os exemplos de compaixão, solidariedade e amor estão ali, em diversas cenas, e vão inspirar de verdade muitas conversas entre vocês.
7. Leve café na camaPor ser “um carinho maravilhoso de dar e de receber”, esse gesto simples é uma das101 Ideias para Curtir com seu Filho (Antes de Ele Completar 10 Anos), livro da jornalista Paula Perim, diretora de redação da CRESCER. “E o dia já começa especial”, completa. Faltar à escola no meio da semana para um passeio inesperado, tomar banho de chuva ou comer a sobremesa antes do jantar, por que não?, são pequenas “infrações” que, vez ou outra, valem a pena para fortalecer o vínculo com eles. “E para o seu filho será uma quebra de rotina, daquelas inesquecíveis”, conclui Paula.
8. Leiam um livro sobre amorAté os 4, 5 anos, as crianças têm dificuldade em entender sentimentos tão abstratos quanto o amor. Por isso, as metáforas de alguns livros são uma maneira de ajudá-las a concretizar, ou seja, compreender esses conceitos. Em Adivinha Quanto eu te Amo (Ed. Martins Fontes), de Sam McBratney e Anita Jeram (ilustração), o Coelho Pai e o Coelhinho “brigam” para saber quem ama mais um ao outro. E como mensurar tanto amor? Ele é do tamanho dos braços compridos e esticados, da altura de um pulo, da distância do rio até as colinas... Para esse pai não falta imaginação, e você pode tornar isso muito divertido. E inesquecível.
9. Mostre fotos dele quando bebêFilmes, álbuns, aquele chocalho que você guardou de lembrança... Todos esses detalhes da “história” do seu filho são importantes para a construção da identidade dele, para ele saber de onde veio, tudo que seria impossível ele saber ou lembrar. Mas, para a criança, tem muito significado pois mostra o quanto ele é importante para você, além de também trazer a mensagem de que “alguém cuidou de mim” e “me ama desde sempre”.
10. Seja como Os SimpsonsCom a família mais politicamente incorreta da televisão, quem diria, você vai aprender várias lições de amor! Há mais de 20 anos no ar, o desenho animado não perdoa ninguém, de políticos a celebridades. “Tampouco poupa a si mesmo, seu humor desnuda a pequenez dos ideais e dos valores de uma família média”, afirma a psicanalista Diana Corso, no livro Psicanálise na Terra do Nunca – Ensaios sobre Fantasias (Ed. Penso), que escreveu em parceria com o marido, o também psicanalista Mário Corso. E assim, sendo “demasiado humanos”, Os Simpsons têm um jeito de amar só deles, mesmo sendo tão pouco, digamos, afetivos. Por isso, mais importante do que seguir as nossas sugestões à risca, é você encontrar o seu próprio jeito de mostrar ao seu filho o quanto o ama. “Para amar não há receita”, conclui a psicóloga Isabel Gomes. “Basta estar em sintonia com o que seu filho realmente precisa.”


Suppa é formada em arquitetura, tem especialização em quadrinhos feita em Paris e acumula 30 anos de experiência como ilustradora. Seu trabalho está em livros (mais de 100, entre eles, um que ela também escreveu, O Nariz de Anaís), revistas, diversas empresas e agências de publicidade.