Mais de 40 anos depois que a americana Betty Friedan deu o primeiro brado feminista com seu livro A Mística Feminina, que mulheres queimaram sutiãs em praça pública em ato extremo pela causa ( que acabou não acontecendo, mas isso é outra conversa), não há mais a menor dúvida de que as mulheres chegaram aondequeriam. Ou praticamente, já que as conquistas femininas ainda não são propriamente uma coisa universal. O mundo árabe que o diga.  

Mas aqui no Brasil e em muitos países da outrora machista América do Sul a coisa evoluiu e está aí Dona Dilma que não me deixa mentir. É mãe, avó, presidente e ainda passa em revistas as tropas mundo afora.

As mulheres minhas amigas, as divorciadas como eu e a nossa presidente, mulheres que me acompanham desde sempre – muitas delas desde os tempos do colégio – optaram por uma vida independente, sem maridos – e a essa altura sem filhos, porque eles se casaram ou foram morar fora ou moram sozinhos. Algumas poucas namoram homens– e tem-se que qualificar o sexo nesses tempos gay – mas naquela base de cada um na sua e seja o que Deus quiser: cada um na sua casa, com suas manias, suas circunstâncias, suas próprias contas, seus sossegos e desassossegos, até quando der, até quando for interessante para as duas partes. Sem dramas, jogo limpo.

Dia desses saí com um velho e querido amigo. Um gentleman sempre, homem elegantíssimo e vaidoso desde a nossa adolescência, profissional de muito sucesso, meu amigo, com todos estes predicados,  está inacreditavelmente sozinho dois casamentos e 40 anos depois. Viveu, portanto, como personagem e testemunha ocular da História, o brado de independência das mulheres.

Como felizmente não é desses pobres cretinos que se metem com as boazudas da hora – com corpos esculpidos à base de horas de academia e boca fechada para qualquer brigadeiro cafajeste – sente-se só. Não consegue encontrar uma companheira no sentido lato do termo – e que seja bonita, por supuesto, porque beleza, já dizia nosso Poeta, é fundamental. E meu amigo é um esteta.

Numa de nossas conversas, me dei conta – até com um certo estupor – que ele padece de uma síndrome que costuma ser privilégio ( ou infortúnio) das mulheres: a síndrome do ninho vazio. Mora num belo apartamento, mas os filhos – que moram, aliás, no mesmo prédio – casaram e levam suas próprias vidas. Ele teve dois filhos homens ainda por cima. Filha mulher não costuma deixar papai na mão. Édipo não deixa.

É duro se acostumar a viver sozinho. Ou sozinha. Levei um tempo pra me acostumar, mas hoje não abro mão da liberdade que tenho para gozar minha vida da maneira que quiser – e com todas aquelas pequenas manias que vamos desenvolvendo ao longo da vida: ler até as tantas com todas as luzes acesas, assistir as novelas, passar batida pelo futebol, tomar apenas sopa no jantar e por aí vai.

Mas meu amigo não está feliz com isso. Sente-se perdido. Trocaria a sua liberdade por todas as aporrinhações da vida conjugal – especialmente a essa altura do campeonato,  quando as circunstâncias que acompanham o cônjuge são praticamente inevitáveis. Ex-maridos, filhos, netos, muitas vezes até o cachorro e o papagaio. Meu diagnóstico: vai acabar casando novamente. Casando mesmo, com direito a escova de dente no mesmo banheiro e outras intimidades decorrentes da condição. Homem não consegue viver sozinho.

Talvez só quando muito moço. Como vai fazer, agora, meu sobrinho Guilherme. Aos 25 anos e já um jornalista muito promissor, resolveu ir morar em Brasília ( yes, ainda há um carioca que se mude para Brasília por, digamos, amor à arte). Ele quer cobrir política e para isso nada melhor do que estar na capital federal. Tão jovem assim, pode e deve fazer isso. Minha irmã, desnecessário dizer, já está vivendo a síndrome do ninho vazio.

Não pode se queixar tanto. Tem Alice, a neta recém-nascida,  para ocupar parte do ninho. Eu vivi mais intensamente a síndrome, porque, até Bela Antonia chegar, passaram-se quatro longos anos. A gente se acostuma. As mulheres, bem entendido. Homem não consegue viver sozinho, repito convicta.

O que não deixa de ser uma doce vingança para todas as mulheres que por séculos viveram tão oprimidas. Literalmente à mercê de seus homens e seus egoísmos.