Filhos são para sempre…Os problemas mudam, se avolumam…as preocupações podem ser a diarréia do bebê de 3 meses, a briga na escola aos 7, o novo e desagradável bullying aos 13, a acne aos 15, e as drogas …a partir daí. Ou antes, bem antes. As “más companhias”…

Será mesmo, que sempre os culpados são “os outros “?

História pessoal by Cris : tenho 3 filhos, adultos ,casados. As escolhas já foram feitas, as vidas estão estáveis. Confesso que as preocupaçoes diminuíram, já que não sei mais se voltaram para casa de madrugada, ou se nem voltaram… E, o que os olhos não veem…

Dos 3, dois tiveram a fase maconha , um baseadinho na praia com o namoradinho surfista. Uma sedinha encontrada na mochila. Sermões, abraços, gritos.. Promessas não cumpridas. Madrugadas em ronda pelas baladas. Uma pracinha que eu chamava de “maconhódromo”, perto do colégio…aulas cabuladas. Ufa ! passou…nenhum “progrediu”. Tipo da situação que mãe nenhuma quer que progrida! Ao menos por aqui, a ideia de que “maconha é só o começo”, não vingou ! Thanks God!

Mas… que pena, que pena… Há os que progridem… Filhos e filhas de amigos e conhecidos. Muita dor, muita luta…resultados nem sempre felizes. Estes dias, encontrei um desses pais. Há 7 anos na luta…da maconha passou-se à cocaína… dependência total, com crises de abstinência, busca por dinheiro, fundo do poço.

Conversei muito com esse pai, ávido por encontrar uma ouvinte. Perguntei, me interessei. E sofri junto. Vi a dor nos olhos, vinda junto com as lágrimas. Vi um homem relativamente jovem, com um princípio de Parkinson, seguramente de fundo nervoso. Vi culpa, indignação, desesperança… Vi fotos daquele serzinho lindo, com olhos marcados pela tristeza, olhar vago, cabeça baixa… Na segunda internação em centros especializados. Visitas controladas, telefonemas idem. Vi o quanto nós, pais que conseguiram que os filhos ficassem SÓ na maconhinha, somos abençoados. Felizardos.

A dor desse pai é tão evidente, que comove a cada palavra. Pesquisei e encontrei estes depoimentos, de outros pais e mães de viciados:

“ A primeira vez que meu marido foi chamado na delegacia, senti raiva e, ao mesmo tempo, queria proteger meu filho. Depois pensava: ‘Ah, deve ser o pessoal com quem ele está andando’. Arranjava uma série de desculpas e justificativas para o fato de ele estar usando drogas: ‘Ah vai ver que a polícia exagerou, não era tanto assim’. Ou então: ‘Ah, é essa fase de adolescência conturbada, ele deve estar só experimentando, mas isso vai passar’. Na verdade, nunca imaginei que a coisa fosse tomar o rumo que tomou.

Ele desaparecia durante dias, voltava num estado difícil de acreditar. Roubava coisas dentro de casa, as jóias que eu tinha foram todas. Outras vezes ele se envolveu com polícia. Sumiu. Foi muito difícil. Eu me sentia culpada e ficava amarrada. Não sabia o que fazer, que atitude tomar. Procuramos ajuda: psicólogo, aconselhamento, uma série de coisas que não deram em nada. Só quando fomos para o Amor Exigente e o Narcóticos Anônimos passamos a ver como o nosso comportamento era facilitador. Percebemos que também éramos pessoas doentes, complicadas e que não podíamos resolver tudo.

Começamos a colocar limites, estabelecemos horários para ele voltar. Algumas vezes ele respeitou, a maioria não. Então ele dormia fora de casa, no capacho, na escadaria, na sala de recepção do prédio, porque não abríamos a porta.
Mas eu tinha certeza de que se não agisse assim, nada iria mudar. Nós não tínhamos mais vida. Era tudo em função dele.

Tivemos vários casos de filhos de amigos nossos que morreram de overdose. Meu marido esteve domingo agora no enterro de um deles. Esse morreu assassinado. Então é uma escolha deles…
( extraído do livro Que droga é essa? )

“Creio que este é um assunto que domino bem. Diria – deixando a modéstia de lado – que reuno condições para discursar sobre este assunto em qualquer conferência. As drogas e eu somos amigas íntimas de longas datas. Além disso, minha formação profissional esteve, numa boa parte da minha vida, voltada para pesquisas sobre este tema. Não que eu goste dele, mas porque eu precisava e você sabe bem o porquê.
Os pais não são culpados diretamente.
Explico porque:

Hoje em dia os pais são bem mais esclarecidos que os de antigamente. Por mais ignorantes que eles sejam estão recebendo informações e orientações de várias fontes. Eles, a sua maneira, orientam e tentam proteger seus filhos. Não podemos ignorar que há muitos que o fazem de forma errada. Um exemplo disso está na permissividade e na ausência de limites.

Os pais, quando têm seus filhos pequenos, conseguem manter os portões fechados. Um dia estes crescem, eles não mais terão condições de mantê-los fechados em casa… Então os portões são abertos para eles.
Enquanto em casa os pais são dois a cuidar, na rua este jovem irá encontrar centenas com os mais variados pensamentos. Um jovem nunca tem certeza de que o que faz é o mais certo. A necessidade de pertencer a um grupo/tribo, de se exibir ou se auto-afirmar induzem a fazer certas coisas e dentre elas o uso de drogas.

Como eu gostaria que as drogas fossem virtuais, como nós somos aqui agora, mas não são. Elas estão a cada dia mais reais na vida dos jovens e crianças.
Depois da desgraça feita, desgraça é assumida.
As drogas têm o poder mágico de subverter. Elas destroem a quem usa e a todos que estão à sua volta. Propagam o desamor e a destruição de lares. É, infelizmente uma viagem sem retorno, um espetáculo de tristeza onde o maior palhaço é o usuário e a platéia são os familiares que assistem omissos (porque não tem opção) o circo pegar fogo.
Triste realidade…” 
( Autor anônimo)

Ao amigo que encontrei e que é motivo desta cronica: peço calma.
Não direi : força! Pois sei que você a está testando no limite.
Peço que não se culpe, pois sua culpa não lhe trará conforto, nem soluções. Apenas destruirá mais alguem além de sua cria: você mesmo.
Serão mais 6 meses de ansiedade e esperança. Confie.
Mas, sempre, sempre…diga a essa pessoinha o que EU disse a um de meus filhos, quando o circo pegou fogo, e muitos viraram as costas:

- Eu NUNCA vou desistir de você !
Hoje, sou avó dos filhos desta minha cria… Não desisti, apesar de ter sofrido muitas pancadas de frente. E, não desejo que ela tenha com seus filhos nem metade, nem um décimo, do que este meu amigo está passando…

Mas, o tempo dirá como estrão as coisas daqui a 10, 12 anos.
De qualquer maneira, a todos os que passam por esse problema, vai minha palavra, a meu estilo:
- que os traficantes sejam presos e trancafiados para sempre.
- que os corruptos pagos para deixar as drogas circularem sejam mortos acidentalmente
- que os governantes que fecham os olhos, tenham um filho ou neto usuário, para sentirem na pele o que sua omissão ocasiona.
- que os pais nunca desistam !
- e que tudo mais vá pro inferno……..

CRISTINA CELENTANO