Não é sempre que leitoras me pedem conselhos, e não é sempre que lhes digo algo nesse sentido. Quem sou eu para dar conselhos… Mas é difícil não se sensibilizar com uma mulher que mostra certa decepção e pede um olhar masculino.
Jovem adulta de cidade interiorana, noiva que já divide apartamento com o futuro marido, ela me dizia que sua vida sexual estava em colapso. O noivo, com quem vivia há quase dois anos, era sexualmente frio com ela, que jejuava havia 40 dias e 40 noites, escalando paredes e se perguntando se o problema era com ela.
Pela descrição dela, o rapaz não parece ser um cara infiel, apenas alguém se acomodou na rotina e achava algumas saídas para evitar o comparecimento. Dores de cabeça eram cada vez mais “frequentes”, ainda mais quando ela insistia. Apesar da seca, ela não queria se separar, nem trair – o que acho fantástico: pessoas que se amam devem se esforçar para continuarem juntas, por que não?
“E aí, Márvio, tem jeito?”
Recorri à vasta literatura de rasteira auto-ajuda, compêndios de filosofia de botequim, tratados sobre o macho machista ocidental, velhos e novos testamentos do mais barato e bom senso e o que pude sugerir era simples. Ela precisava ter um segredo.
Segredos nos deixam diferentes quando encaramos as pessoas. Agimos sempre de modo suspeito em relação a quem escondemos um segredo. Ela não ia ter um amante, avisei. Mas agiria como se tivesse.
Sairia mais bonita para trabalhar, voltaria um pouco mais tarde, atrasaria o jantar. Quanto à questão sexual, sugeri-lhe o lema punk do-it-yourself, de preferência pouco antes de chegar em casa, a fim de aparecer um pouco mais satisfeita – e com um leve tom esnobinho.
A ideia era que ele sentisse o CHEIRO DO MACHO INEXISTENTE.
Sim, de fato era um joguinho, concordo com você, leitora. Ninguém gosta de jogos. Mas ninguém gosta de rotina. Um homem conquistado pode sucumbir à inércia da rotina, e por que não tentar ser a primeira a quebrá-la com uma mera sugestão? Era jogar uma pulga psicológica atrás da orelha, impossível de ser juridicamente provada, a fim de ver se o rapaz despertava para a mulher que tinha, nem que fosse para evitar que sua vocação de corno – ou abandonado – se concretizasse com honra ao mérito.
O resultado deu certo logo no segundo dia. De vez em quando ela ainda me dá retornos: conta que é convocada mais de duas vezes ao dia, às vezes com parentes em casa, e que o último passo dele foi convidá-la para uma viagem a dois. O rapaz ainda fareja alguma coisa, ensaia perguntas que não faz, mas a alegria prossegue.
Táticas como essa não são universais. Vai depender da vontade (ou do medo) do seu farejador amado.
Do maravilhoso blog da MARIA FILÓ
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