Giselle chega em casa depois do trabalho e encontra o marido na cozinha preparando o jantar.
Depois de guardar algumas compras no armário, senta-se em uma banqueta e começa a folhear uma revista enquanto toma um gole de café.
— Olha aqui, amor, essa matéria – diz Giselle. – “Dicas para interpretar os sinais de um homem apaixonado”. Será que você é um homem apaixonado, hein?
— Ah, isso é tudo balela. Pode ter certeza que quem escreveu foi uma mulher.
— Foi sim, mas é uma terapeuta.
— Terapeuta, sei. Hoje em dia qualquer um lê uma apostila na internet e já se diz terapeuta de qualquer coisa. Tem algum número de registro profissional aí?
— Deixa de ser chato, vai. Escuta as dicas. Primeira: “Ele vai às compras com você, entra nas lojas, espera você experimentar o que mais lhe agrada e ainda se mostra feliz por ter corrido todas as boutiques do shopping”. Você nunca fez isso...
— Minha querida, talvez até exista algum homem assim, eu desconheço, mas tudo indica que o próximo passo dele será opinar, experimentar e depois usar as peças junto com a mulher.
— Que preconceito. E essa aqui: “Faz questão de conhecer sua família e também quer que você conheça a dele”.
— Imagino que o cara quer mesmo é conhecer a mãe da moça pra ter uma ideia de como ela vai ficar dali uns anos. O que não deixa de ser um bom sinal, já que ele está pensando num futuro com ela.
— E eu fiquei parecida com minha mãe, por acaso?
— Graças a Deus. Se tivesse ficado parecida com seu pai eu não estaria mais aqui.
— Mais uma “Quando você não pode sair porque não está se sentindo bem, ele fica com você em sua casa cuidando da sua saúde e fazendo companhia”.
— Sim, ele fica fazendo companhia até ter a certeza de que ela não está mentindo com intenção de sair mais tarde e curtir a noite sem ele. Depois que tiver essa certeza, ele vai embora curtir a noite sem ela.
— Ah é assim, é? Você já fez isso?
— Claro que não, benzinho. Posso fritar seu bife? Já preparei arroz e salada...
— Outra dica: “Fala com naturalidade em crianças”.
— “Ela” fala sobre crianças. Ele está pensando em sexo. Certeza.
— Outra: “Não se incomoda de ir buscá-la onde estiver, seja no trabalho, na academia, na escola. A leva aonde você pedir sem se incomodar”.
— Ele está interessado em sexo.
— E essa aqui, você também vai discordar? “Liga só para dizer que a ama”.
— Rá. O cara tá com a consciência pesada. Certeza.
— Oi? Como assim?
— Amorzinho, não estamos falando de nós, certo? Eu só disse o que vejo por aí.
— Acho bom mesmo. Outra “No começo do namoro não a convida apenas para sair na noite, mas também para passeios inocentes durante o dia. Ele não quer que pense que está interessado apenas em sexo”.
— Ele está interessado apenas em sexo, mas não quer que ela pense isso.
— “Fica junto de você mesmo nos finais de semana em que tem que terminar um trabalho e tenta te ajudar. Respeita os seus compromissos e o que importa pra ele é estar perto de você.”
— Essa é bacana, boa dica. Mas depois tem que rolar uma compensação.
— “Tem uma foto sua na carteira dele”. Você tem foto minha? Nunca vi...
— Tenho, meu amor, tenho, mas não acho que isso seja prova de alguma coisa.
— E a última: “Quando você está cansada, suada e despenteada depois de um dia daqueles no trabalho, olha fundo nos seus olhos e lhe diz que você é a mulher mais linda que ele já conheceu, terminando com o beijo mais apaixonado que você já sentiu”.
— ...você é a mulher mais linda que eu conheço…
E se amaram na cozinha.
Ednucci
PS – ele tirou a frigideira do fogo antes. Sem acidentes.
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