Ouvi isto numa universidade americana. E penso: quem acha que a universidade é un ninho de querubins e serafins deve mudar seu pensamento atentando para essa história. Nada pior do que o colega de departamento. E isto, é claro, pode ser levado para outros tipos de empresas. Evidentemente que há colegas excepcionais, mas o diabo é aquele o colega de departamentoque inferniza a vida da gente.
Comecei a pensar nisto, quando os jornais deram outro dia que 16 reitores estão envolvidos em fraudes as mais variadas. E aí você pensa: antigamente reitor era alguém acima de qualquer suspeita. Era. E, por isto, chamado de magnífico.
Mas além disto, chegaram-me estórias reais sobre a vida universitária que conheci por 30 anos, aqui e no exterior. Um professor narrou que ao almoçar com um colega de departamento lhe expôs um modelo teórico que estava criando. No entusiasmo da descoberta foi falando, entregando suas ideias. Dias depois o colega de departamento publicou um artigo com aquelas mesmas ideias.
E a questão da bibliografia? Dirigi uma reunião de cadeira na qual todos os professores davam naturalmente a ementa e a bibliografia que usariam naquele semestre. Era uma forma de entrosar os cursos. No entanto, um professor se negou a dizer a bibliografia que usaria naquele semestre, temia que os demais sacassem de onde tirava suas ideías.
Neste sentido, uma das coisas mais terriveis é a tirania da bibliografia imposta as alunos. Bibliografia como camisa de força. Uma candidata à pós-graduação foi advertida que se não seguisse a cartilha do pós-modernismo estaria reprovada. Pior: que se não citasse o nome de um determinando professor no seu trabalho estaria automaticamente reprovada. Foi reprovada.Ela procurou apoiou em vários professores, mas eles para ela diziam uma coisa, em público, outra.
Outro professor teve todos os seus alunos reprovados na seleção para pós-graduação no mesmo departamento em que dava aulas, porque ele não seguia a cartilha da moda. Já um professor me disse que durante a ditadura impediu que os militares demitissem um colega do qual, aliás discordava teoricamente. Ficou sabendo depois que o colega o denegria nas aulas e conferências.
Outro colega trouxe um professor do estrangeiro, deu-lhe todas as chances, apresentou-o às editoras, levou-o a congressos, introduziu-o em sua família. Um dia descobriu que o outro trabalhava subrepticiamente para destruí-lo. E quando o chamou para um cara a cara o colega de departamento disse: -É, no principio tentei te imitar, depois resolvi te destruir
Como diria Vinícius: mal procedeu o Senhor em não descansar no sábado; ou então: mal procedeu o Senhor em deixar o diabo criar o colega de departamento.
( Estado de Minas/Correio Braziliense- 25.12.2011)
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