RIO - Escolher entre água natural, mineral sem ou com gás é coisa do passado. Agora, em alguns dos melhores restaurantes da cidade e de importadoras, entrou na moda o cardápio de águas aromatizadas. Há opções de aromatização com limão, rosas, laranja, hortelã, morango e anis. Há também águas enriquecidas com oxigênio e vitaminas, com propriedades terapêuticas, e até mesmo afrodisíacas (pelo menos é o que prometem os fabricantes).

No Miam Miam, comandado pela chef Roberta Ciasca, as águas aromatizadas com frutas são servidas em eventos da casa. No Line, do Museu Histórico Nacional, a água leva carambola, nozes e essência de morango. No restaurante Ene, faz muito sucesso uma infusão de água aromatizada com amora e lascas de limão. E até em centros de beleza as águas ganharam aditivos. Na Clínica Juliana Neiva, de dermatologia e beleza, as clientes podem encher seus copos com dois tipos águas aromatizadas: de hortelã com anis e laranja com canela.

- O foco é o bem-estar e a água aromática é uma forma de proporcionar isso - afirma a doutora Juliana. - Ela estimula os sentidos.

O hortelã, por exemplo, é um antisséptico natural e o anis estrelado é ótimo para cicatrização. Mas o uso desses produtos não tem intuito medicinal, comenta Juliana. A ideia é estimular o consumo de água, essencial para a pele e demais órgãos.

- Geralmente as pessoas bebem menos água do que necessitam. As aromáticas surpreendem e agradam até mesmo aqueles que não gostam de beber água pura. É um sucesso e já estamos pensando em novas receitas - conta a médica.

A nutricionista Patricia Davidson Haiat também recomenda as águas aromatizadas. Uma dica é cortar gengibre, fazer sua maceração e adicioná-lo à garrafa de água por 24 horas. Pode-se adicionar um ramo de hortelã.

- É ótimo para melhorar a digestão - sugere Patrícia. - No restaurante talvez não tenha o mesmo efeito porque a água é preparada na hora e a receita deve ser feita com 24 horas de antecedência.

Em supermercados, há aromatizadas industrializadas, mas é preciso prestar atenção aos rótulos porque algumas são bebidas gaseificadas, ou refrigerantes de baixas calorias. E levam adoçantes dietéticos, que, em excesso, elevam a produção de insulina.

- Insulina demais favorece o acúmulo de gordura abdominal - alerta.

E quanto à tradicional água mineral? É melhor com ou sem gás? Patrícia recomenda sem gás, pois muitas vezes a gaseificação é um processo industrial. E mesmo que a adição de carbono seja natural (água carbonatada), ela fica levemente ácida.

- Muitas pessoas se queixam de estufamento, má digestão e gases com o consumo alto de água com gás - diz.

E águas oxigenada, vulcânica, de geleira e outras origens? Fazem diferença? Uma delas, a austríaca Oxygizer, diz no rótulo ter 35 vezes mais oxigênio do que a água mineral convencional e 25 mais do que a água da torneira. Segundo o fabricante, o produto é "de elevada pureza, com cálcio e magnésio, pobre em sódio", indicada para praticantes de exercícios intensos, pois ajuda na recuperação.

- Não dá para dizer até que ponto o oxigênio acrescido à água pode trazer benefícios de melhor oxigenação dos tecidos, especialmente cérebro e músculo, durante a atividade física - diz Patrícia.



Um ponto relevante é que o gás presente na água não é absorvido, diz o pesquisador Antonio Herbert Lancha Jr, do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da USP.

- Para nossa sorte, o intestino não absorve gás. Assim, águas com elevada concentração de oxigênio não fornecerão este elemento para o sangue. E as águas gasosas não fornecerão gás ao corpo - diz. - Da mesma forma, água com gás não dá celulite.

Ele explica que a variação de sabor das águas minerais depende da composição de minerais nelas presentes. Os estudos mostram que as pessoas que apresentam formação de cálculo renal com derivados de oxalato de cálcio devem preferir as águas com menor teor de cálcio. Os demais podem escolher a sua água pelo paladar e preço.

- Nenhum benefício adicional foi encontrado até agora com as variações de águas presentes no mercado. Mas deve-se estimular um maior consumo diário de água - diz o pesquisador.

Qual a medida da hidratação diária correta? A ingestão de água varia de acordo com o gasto calórico. Um adulto queima em média 2.200kcal (quilocalorias) explica Lancha e, portanto, requer 2,2 litros por dia de água. Uma criança muito ativa pode necessitar da mesma quantidade, mas genericamente recomenda-se 1,5 litro por dia. E o idoso requer atenção, pois perde a sensibilidade à sede e fica mais vulnerável à desidratação.

- A ingestão de água não deve ocorrer numa única vez. O consumo deve ser dividido pelo número de horas que a pessoa permanece acordada. Assim 2,2 litros em 11 horas representam 200ml por hora - ensina Lancha.

Já o nefrologista André Felipe Sloboda, diretor-clínico do Instituto de Terapia Renal (Renalduc), é mais radical com relação às águas minerais. Ele diz que muitos estudos já tentaram demonstrar o benefício desses produtos em detrimento da natural. No entanto, nenhum deles teve êxito. A água mineral vem com mais sais minerais, é verdade. Porém, tais elementos podem ser facilmente encontrados numa dieta balanceada, afirma o médico. O importante é o consumo de água potável.

- Águas com vitaminas e sais minerais não trazem benefícios adicionais à saúde do indivíduo, se comparadas com a boa e velha água tratada. Do ponto de vista acadêmico, não se diz que esta ou aquela água possui propriedades terapêuticas. O que vale é o consumo regular e adequado de água, seja ela qual for, desde que potável, ajuda em várias funções do organismo, melhora a pele, os rins e o intestino - diz Sloboda.

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