Algo ficou para trás. Algo se foi. Algo partiu.

Teria sido algo ou alguém?

Teria sido algum amigo?

Teria sido algum amor?

Teriam sido muitos amigos?

Teriam sido muitos amores?

Ou será que teriam sido apenas coisas? Coisas ou gente?

Coisa não é igual à gente. Coisa é coisa, gente é gente.

É tudo igual, só que é diferente.

Ou será que fui eu quem ficou para trás.

Algo ou alguém teriam partido, como já se sabe, para um destino que não há

Pois assim que se chegar, hora de partir já será.

Que confuso, mas é assim.

Confuso, difícil de entender, difícil de discernir.

Certo ou errado, verdade ou mentira, vai saber.

Fato é que algo ou alguém já não está mais aqui.

Pai, irmã, primo, tio, tia, amigo, amiga, gente e coisas.

Algo ou alguém já não está mais aqui por perto.

Algo ou alguém já não está mais perto de mim.

Alguns se foram porque quiseram. E, aí, se mandaram.

Outros não queriam ir de jeito nenhum. Mas se foram assim mesmo. Ou então foram levados.

Sei lá.

Não estão mais por perto. Só sei disso.

E como fazem falta. E como dói. Mas não dói todo dia. Tem dia que dói. Mas tem outros dias em que a gente nem se lembra.

Tem gente que nunca esquece e sente dor todo dia. E como dói, ou como deve doer.

Nunca se esquecer, lembrar todo dia, nossa!

Tem dia que é mais do que outros, mas é assim.

Todos os dias a gente perde algo ou alguém.

Todos os dias a gente descobre que perdeu.

Todos os dias a gente se identifica com a perda.

Tem dia que a gente percebe. Tem dia que a gente se lembra. Tem dia que alguns de nós se esquece. Tem gente que nunca se esquece.

Todos os dias a gente fica olhando os navios no cais, e eles se vão, e a gente fica.

Então, somos nós é que ficamos para trás.

Deve ser assim, algo ou alguém se vai e a gente fica para trás.

Estaríamos, então, atrasados?

Seria a nossa hora de partir?

Mas a gente ainda nem chegou?

Não mesmo? Não mesmo.

Abraço e felicidade.