E um diário (ainda que toda poesia tenha um pouco de diário) tem ainda mais razões para se ouriçar diante de quem pretende invadi-lo, como a proteger segredos cuja guarda é tão insuportável quanto sua revelação.
É assim que os textos ocupam essa área nebulosa entre guardar e revelar (que, no limite, é também entre confiar e desconfiar do leitor), e talvez por isso tenhamos um livro repleto de trânsitos entre dentro e fora, cidade e corpo, sonho e realidade, ou, como diz a poeta, entre limbo e Olimpo.Conceição Bastos, quando traz seu Diário à praça, preserva consigo ”a palavra/ Submersa/ Palavra-âncora/ chave para a porta do calabouço”. Mas, leitor, não se apresse em dizer se a chave aí é a que abre ou a que fecha; a que permite a entrada ou a que bloqueia. Como boa ouriça, aquilo que nela é defesa também é ataque. Proteja-se.