Fim de ano, época de ganhar brindes: folhinhas, agendas, calendários de mesa… Época, também, de repassar brindes, afinal o que fazer com tantas folhinhas, agendas e companhia?

Poucas pessoas resistem a um presentinho aparentemente gratuito. Aceitamos, com alegria, aquele boné que não pretendemos usar, aquele chaveiro que acabará numa gaveta (junto com vinte outros), aquela caneta que… Olha, a questão das canetas requer um parágrafo à parte.

Sou vítima das canetas de brinde. Quase todas elas foram inventadas para frustrar criaturas ingênuas como eu - criaturas que, quando veem uma caneta, acreditam que ela deveria escrever de verdade, não apenas rubricar uns papéis e passar o resto de nossas vidas emitindo tristes soluços de tinta. Acontece que esses instrumentos de não-escrita existem para ser belos e fazer propaganda. A tinta, como parte irrelevante e cara, não passa de um pinguinho. Por isso não abandono minhas BICs comuns e faço questão de jogar fora qualquer caneta que só sirva para fazer lavagem cerebral nos consumidores.

Sejamos francos, apenas formadores de opinião e consumidores (reais ou em potencial) ganham brindes em primeira mão. Porém, como esses sortudos costumam receber muitos brindes iguais e ter dinheiro para comprar coisas melhores, os brindes vão sendo representeados. Passam de uma pessoa para outra até chegarem a quem realmente precisa deles. No caso das canetas, quem precisa delas são os recicladores de plástico ou os colecionadores de canetas.

Minha avó era professora e recebia tantos lápis de brinde que resolveu colecioná-los. Quando veio morar conosco, trouxe quase trezentos. Eram lápis com propagandas de gráficas, livrarias, hotéis, bebidas, açougues, pontos de táxi, farmácias, remédios… Uma coleção intocável e sacrossanta, mas só até o dia em que nós, os netos, fomos pegos em flagrante usando um dos lápis para fazer tarefa. A pobre colecionadora desencantou-se com nossa ousadia e, imediatamente, perdeu todo o amor pelo tesouro conspurcado.

Colecionadores de brindes são assim. Quando o enorme valor afetivo que atribuíram à coleção se esvai por algum motivo banal, resolvem doá-la ao primeiro que aparecer. Um amigo meu enviou suas camisetas aos desabrigados de uma enchente porque descobriu uma traça ameaçadora no guarda-roupa. Benditas sejam as traças!

Gratuitos como isca em anzol, os brindes funcionam melhor quando são úteis imediatamente e entregues ao público certo. Em grandes exposições de livros ou automóveis, por exemplo, os brindes mais cobiçados pelos frequentadores são as sacolas para guardar os bonés, chaveiros, camisetas e publicações ganhos em outros estandes. E, também, os oportunos leques para combater o calor em meio à aglomeração de pessoas.

O pior brinde que já recebi foi um envelope com sementes de rabanete, oferta de um candidato a vereador. Político não tem jeito mesmo. Custava dar sementes de girassol, tão mais simpáticas? Por falar em sementes, minha amiga Anny recebeu um brinde muito fofo, como lembrancinha de uma festa infantil: um kit para cultivo de ervilhas, com vasinho, terra e tudo mais. Também quero!!! Quem tiver enjoado de brincar, por favor, repasse pra mim!

Sim, tenho condições de comprar um kit, mas a graça do brinde é ser de graça ou parecer que é.

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