Ninguém! Pelo menos que eu conheça, ninguém mais tem tempo de pegar um envelope verde amarelo, o bloco Aviador papel de seda e a caneta Parker 51 para escrever uma carta. Vivemos a era do skype, da msg pelo cel, do e-mail, do vaptvupt, bateu voltou. Quem hoje teria paciência de escrever uma carta e ficar dias e dias esperando a resposta? Se a resposta do e-mail não vem em um minuto já começa aquele tictic nervoso, não é mesmo?


'Quem hoje teria paciência de escrever uma carta e ficar dias e dias esperando a resposta?'

A primeira notícia que tivemos do Brasil foi através de uma carta, aquela de Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei Dom Manuel, o Venturoso: “Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova…” e por aí ia.

Durante meu auto-exílio em Paris durante a década de 1970, escrevi e recebi centenas e centenas de cartas. Até hoje me emociono ao ver um envelope verde amarelo, daqueles bem antigos onde se lia Par Avion. Acordava cedo e a primeira coisa que fazia era descer quatro andares para buscar a correspondência. Quando tinha envelope verde amarelo era uma festa.

Dentro deles, notícias boas, notícias ruins. Os sobrinhos que nasciam, a luta que aumentava, a censura que apertava. Recortes de jornais, fotografias. Se na primeira carta que mandei de lá reproduzi a carta de Pero Vaz de Caminha, a última começava assim: “São 11 horas da noite e cá estou eu sozinho no único cômodo da casa onde ainda resta um pouco de esperança. São nove baús de alumínio empilhados no canto, esperando o navio chegar. Dentro deles, tudo que restou da nossa vida aqui em Paris nestes anos todos. Estou voltando nas asas do tecoteco da anistia.”