Adriano Vizoni/Folhapress 
Já ouviu falar em "earworm"? É um termo americano para aquelas musiquinhas pentelhas de que a gente nem gosta, mas que ficam tocando sem parar dentro das nossas cabeças. Hoje em dia ficou ainda mais difícil escapar delas, pois as danadas viram trilha de novela ou geram virais no YouTube. Para escapar do assédio, só recheando um iPod com Mozart, Bach e Schubert.
Alguns exemplos recentes de "earworm" foram "Você Não Vale Nada Mas Eu Gosto de Você", da banda Calcinha Preta, que, no auge, era executada no rádio umas 5 mil vezes por dia. Ou ainda "Eu Sou Stefhany", aquela do Cross Fox, que acabou agregando o adjetivo "absoluta" ao nome de sua cantora.

2011 foi pródigo nessas minhocas de ouvido. Duas delas foram lançadas ainda em 2010, mas avançaram por este ano adentro com versões, paródias e até mesmo prêmios. A primeira é "Minha Mulher Não Deixa Não", de Reginho e a Banda Foguete, que assolou todo o Norte e o Nordeste e respingou até o Sul do país. Lembra? "Vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa não" Pronto, agora ela vai importunar você pelo resto do dia.

O outro verme nascido no ano passado foi ainda mais longe. "Eu Sou Foda", dos funkeiros cariocas Avassaladores, tem um dos clipes mais toscos de todos os tempos, que ainda assim faturou um troféu da MTV. Depois de milhares de remixes e "mash-ups" (onde é misturada com outras canções), este hino à auto-estima ganhou uma sobrevida surpreendente: entrou para o repertório de muitas duplas sertanejas, para o assanhamento máximo das fãs do gênero. Longe vão os dias do "liga pra mim, não, não liga pra ele". Hoje em dia nossos astros caipiras se gabam de ser "melhor que o seu marido".

O país que cunhou o termo "earworm" não poderia ficar de fora. As paradas americanas são ricas em "novelty songs", que parecem ter sido compostos com o estrito propósito de irritar a humanidade. O mais emblemático de 2011 foi o abominável "Friday", da adolescente Rebecca Black, talvez o ponto mais baixo de toda a história da música. Seguindo a filosofia "tão ruim que é legal", a faixa trouxe fama e fortuna à sua autora, que entretanto não atingiu o mesmo impacto com suas novas tentativas. "Earworm" de verdade tem que ser espontâneo. Não pode ser planejado.

E qual é o bicharoco que nos aflige neste final de ano? Claro, é o "Ai, Se Eu te Pego" de Michel Teló. O estilo do rapaz combina sertanejo com forró e safadeza, sem a menor cerimônia. Nem adianta reclamar. Melhor se render a essa delícia e cantá-la logo em alto e bom som. Que, dizem os especialistas, é a única maneira de se arrancar um "earworm" do cérebro.