Você se lembra da sua infância, quando caía e se machucava? Lembra o que sua mãe fazia para acalmar a dor? Minha mãe, Grace Rose, me levava no colo até sua cama e beijava meu machucado. Então, ela sentava ao meu lado, pegava minha mão e falava: “Quando doer, aperte minha mão e vou dizer ‘Eu te amo’.”
Era sempre assim: eu apertava sua mão e, sem falhar uma só vez, ouvia as palavras: “Mary, eu te amo.”
Às vezes, eu fingia ter me machucado só para passar por esse ritual com ela. À medida que fui crescendo, o ritual mudou, mas minha mãe sempre encontrava um modo de diminuir a dor e aumentar a alegria em qualquer área da minha vida.
Numa época difícil, durante o segundo grau, ela tinha sempre meus chocolates preferidos, recheados com amêndoas, quando eu chegava em casa. Lá pelos meus vinte e poucos anos, mamãe muitas vezes telefonava num fim de tarde convidando-me para vermos o pôr-do-sol ou o nascer da lua. Deixava bilhetinhos amorosos sobre meu travesseiro quando eu chegava tarde em casa e, quando fui morar sozinha, mandava-me vasinhos de flores agradecendo as visitas que eu lhe fazia.
Mas minha melhor lembrança continuou sendo ela segurando minha mão quando eu era pequena e repetindo: “Quando doer, aperte minha mão e vou dizer ‘Eu te amo’.”
Eu já tinha trinta e tantos anos quando, uma manhã, papai telefonou para o meu trabalho. Era um homem seguro e lúcido, mas a voz soava confusa e amedrontada. “Mary, há algo errado com sua mãe. Já chamei o médico, mas, por favor, venha logo que puder.”
Quando cheguei, papai andava de um lado para o outro na sala e mamãe estava deitada no quarto, olhos fechados, as mãos sobre o estômago. Chamei por ela, tentando manter a voz o mais calma possível.
“Mamãe, estou aqui.”
“Mary, é você?”, ela balbuciou.
“Sim, mamãe, sou eu.”
Eu não estava preparada para a próxima pergunta e, quando a ouvi, congelei, sem saber o que responder.
“Mary, eu vou morrer?”
Meu olhos se encheram de lágrimas enquanto olhava minha mãe querida ali, deitada, tão desamparada.
Ao tentar descobrir o que responder, pensei: “O que mamãe diria num momento desses?”
Hesitei por um instante, esperando que as palavras viessem. “Mamãe, não sei se você vai morrer, mas fique tranqüila, tudo acabará bem.” Apertei sua mão. “Eu amo você.”
Ela gemeu: “Mary, sinto tanta dor.”
Mais uma vez fiquei sem saber o que falar. Sentei a seu lado na cama e me ouvi dizendo: “Mamãe, quando doer, aperte minha mão e vou dizer ‘Eu te amo’.”
Ela apertou minha mão.
“Mamãe, eu te amo.”
Esta cena se repetiu muitas vezes durante os dois anos seguintes, até sua morte, de câncer. Nós nunca sabemos quando virão os momentos em que seremos testados. Mas sei que, quando chegarem, com quem quer que eu esteja, oferecerei o ritual de amor de minha mãe: “Quando doer, aperte minha mão e vou dizer ‘Eu te amo’.”

MARY MARCDANTE