Há uma pergunta que percorre este romance de Lídia Jorge, da primeira à última página: Quantas vítimas se deixam pelo caminho para se perseguir um objetivo? A ação do romance decorre no final dos anos 80 do século XX e invoca um tema de inesperada audácia – o da força da idolatria e a construção do êxito –, visto a partir do interior de um grupo, narrado 21 anos mais tarde, na forma de um monólogo. Como é habitual na obra da autora, a questão social é relevante – a força do todo e a aniquilação do indivíduo perante o coletivo são temas presentes neste livro. Mas aqui, tratando-se de um grupo fechado e dominado pela música, a parábola social submerge perante a descrição de um ambiente de grande envolvimento humano e de densidade poética. Servido por uma narrativa ao mesmo tempo rude e mágica, A noite das mulheres cantoras propõe a quem o lê a história de seis figuras que passam a viver para sempre no nosso imaginário. A história de amor comovente que une as duas personagens principais, Solange de Matos e João de Lucena, é, por certo, um daqueles episódios que iluminam a realidade, e torna a grande literatura sobre a vida de hoje indispensável, com os ingredientes próprios da cultura dos nossos dias.